Por Rafael Jácome
Se a relação ocorre através do diálogo e do amor e no meio existe a Palavra –
foco principal de devoção deste relacionamento, o egoísmo impera nas falhas e
trágicas condições de vida terrena quando a Palavra é substituída pelas
palavras. Assim encontramos a explicação das guerras entre os povos, das
guerras santas, da opressão das nações, das misérias,... A palavra gera o amor
e pode perpetuar o egoísmo. Yasser Arafat definiu bem: “A palavra é a maior
arma”.
A palavra sempre é uma ferramenta complexa
onde nem sempre denota um sentido óbvio e único, mas que pode muitas vezes ser
um instrumento de controvérsias e mal-entendidos. Entretanto, ela tem o poder
de transformar o que não existe em realidade e de dar a aparência de
irrealidade ao que realmente existe.
No cristianismo a relação com Deus é caracterizado pelo amor, e Deus é amor, e,
Sua Palavra é a verdade. Como para o fiel toda verdade tem de ser divina (se
algo é verdade, não pode provir do “pai da mentira”), toda verdade é, de fato,
expressão da Verdade. Não pode haver duas verdades, uma natural e outra
sobrenatural. Mas o objetivo do amor é fazer com que o ego seja em algum
sentido aniquilado. No diálogo ou o amor, o egoísmo é uma possibilidade
perpétua. “A própria linguagem pode ser um dom restritivo, sempre que nos
prende aos conceitos de nossa experiência mundana.” (Armstrong, Karen – Uma
História de Deus, 1994)
Na tragédia Otelo, de Shakesperare, o mouro Otelo, apaixonado loucamente por
sua jovem esposa, Dêsdemona, acaba assassinando-a porque foi convencido por
Iago de que ela o traia. Tudo foi tramado por ele por inveja de outro membro da
corte que iria ganhar cargos dado por Otelo. Tomando a mentira pela verdade,
Otelo destruiu a pessoa amada, que morreu afirmando sua inocência. Iago
construiu a mentira despertando o ciúme em Otelo, caluniando. Ele usou a
linguagem, isto é, palavras falsas que envenenaram o espírito de Otelo.
Podemos pensar: como é possível que as palavras tenham o poder para transformar
o verdadeiro, falso, e tornar o falso, verdadeiro? Utilizando a ferramenta
“mentira”. Ela produz a ansiedade: “Na verdade somos culpados, no tocante a
nosso irmão, pois lhe vimos a angústia da alma, quando nos rogava, e não lhe
acudimos, por isso, nos vem esta ansiedade” (Gn 42.21) Foi o que sentiram os
irmão de José.
A verdade é em Deus e Ele anseia por homens de verdade: “Procura dentre o povo
homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza.”
(Ex 18.21) A nossa relação com Deus é baseada na verdade: “Eis a Rocha! Suas
obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo; Deus é
fidelidade, e não há nele injustiça, é justo e reto.
DEUS É
FIEL!
Rafael Jácome
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