Por Rafael Jácome
Fonte: Extraído do Livro Os 100 acontecimentos históricos do Cristianismo
A. Kenney
Talvez o
cristianismo não se expandisse de maneira tão bem-sucedida, caso o Império
Romano não tivesse existido. Podemos dizer que o império era um tambor de
gasolina à espera da faísca da fé cristã.
Fonte: Extraído do Livro Os 100 acontecimentos históricos do Cristianismo
A. Kenney
Nero durante o incêndio de Roma
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Os elementos unificadores do império ajudaram na expansão do
evangelho. Com as estradas romanas, as viagens ficaram mais fáceis do que
nunca. As pessoas falavam grego por todo o império e o forte exército romano mantinha
a paz. O resultado da facilidade de locomoção foi a migração de centenas de
artesãos, por algum tempo, para cidades maiores — Roma, Corinto, Atenas ou
Alexandria — e depois se mudavam para outro lugar. O cristianismo encontrou um
clima aberto à religiosidade. Em um movimento do tipo Nova Era, muitas pessoas
começaram a abraçar as religiões orientais — a adoração a Isis, Dionisio,
Mitra, Cibele e outros. Os adoradores buscavam novas crenças, mas algumas
dessas religiões foram declaradas ilegais por serem suspeitas de praticar rituais
ofensivos. Outras crenças foram oficialmente reconhecidas, como aconteceu com o
judaísmo, que já desfrutava proteção especial desde os dias de Júlio César,
embora seu monoteísmo e a revelação bíblica o colocassem à parte das outras
formas de adoração.
Tirando plena vantagem da situação, os
missionários cristãos viajaram por todo o império. Ao compartilhar sua
mensagem, as pessoas nas sinagogas judaicas, nos assentamentos dos artesãos e
nos cortiços se convertiam. Em pouco tempo, todas as cidades principais tinham
igrejas, incluindo a capital imperial.
Roma, o centro do império, atraía pessoas como um ímã. Paulo
quis visitar Roma (Rm 1.10-12), e, na época em que escreveu sua carta à igreja
romana, vemos que ele já saudava diversos cristãos romanos pelo nome (Rm
16.3-15), talvez porque já os tivesse encontrado em suas viagens.
Paulo chegou a Roma acorrentado. O livro de
Atos dos Apóstolos termina narrando que Paulo recebia convidados e os ensinava
em sua casa, onde cumpria pena de prisão domiciliar, ainda que, de certa forma,
não vigiada.
A tradição também diz que Pedro passou algum tempo na
igreja romana. Embora não tenhamos números precisos, podemos dizer que, sob a
liderança desses dois homens, a igreja se fortaleceu, recebendo tanto nobres e
soldados quanto artesãos e servos.
Durante três décadas, os oficiais romanos achavam que o
cristianismo era apenas uma ramificação do judaísmo — uma religião legal — e
tiveram pouco interesse em perseguir a nova "seita" judaica. Muitos
judeus, porém, escandalizados pela nova fé, partiram para o ataque, tentando
inclusive envolver Roma no conflito.
O descaso de Roma pela situação pode ser visto no relato
do historiador romano Tácito. Ele relata uma confusão entre os judeus,
instigada por um certo "Chrestus", ocorrida em um dos cortiços de
Roma. Tácito pode ter ouvido errado, mas parece que as pessoas estavam
discutindo sobre Christos, ou seja, Cristo.
Por volta de 64 d.C, alguns oficiais romanos
começaram a perceber que o cristianismo era substancialmente diferente do judaísmo.
Os judeus rejeitavam o cristianismo, e cada vez mais pessoas viam o
cristianismo como uma religião ilegal. A opinião pública pode ter começado a
mudar em relação à fé nascente até mesmo antes do incêndio de Roma. Embora os
romanos aceitassem facilmente novos deuses, o cristianismo não estava disposto
a partilhar a honra com outras crenças. Quando o cristianismo desafiou o
politeísmo tão profundamente arraigado de Roma, o império contra-atacou.
Em 19 de julho, ocorreu um incêndio em uma região de trabalhadores
de Roma. O incêndio se prolongou por sete dias, consumindo um quarteirão após o
outro dos cortiços populosos. De um total de catorze quarteirões, dez foram
destruídos, e morreram muitas pessoas.
A lenda diz que o imperador romano Nero
"dedilhava" um instrumento musical, enquanto Roma era destruída pelas
chamas. Muitos de seus contemporâneos achavam que Nero fora o responsável pelo
incêndio. Quando a cidade foi reconstruída, mediante o uso de altas somas do
dinheiro público, Nero se apoderou de grande uma extensão de terra e construiu
ali os Palácios Dourados. O incêndio pode ter sido a maneira rápida de renovar
a paisagem urbana.
Objetivando desviar a culpa que recaíra
sobre si, o imperador criou um conveniente bode expiatório: os cristãos. Eles
tinham dado início ao incêndio, acusou o imperador. Como resultado, Nero
jurou perseguir e matar os cristãos.
A primeira onda da perseguição romana se
estendeu de um período pouco posterior ao incêndio de Roma até a morte de Nero,
em 68 d.C. Sua enorme sede por sangue o levou a crucificar e queimar vários
cristãos cujos corpos foram colocados ao longo das estradas romanas,
iluminando-as, pois eram usados como tochas. Outros vestidos com peles de
animais, eram destroçados por cães nas arenas. De acordo com a tradição, tanto
Pedro quanto Paulo foram martirizados na perseguição de Nero: Paulo foi
decapitado, e Pedro foi crucificado de cabeça para baixo.
Entretanto, a perseguição ocorria de maneira
esporádica e localizada. Um imperador podia intensificar a perseguição por dez
anos ou mais; mas um período de paz sempre se seguia, o qual era interrompido
abruptamente quando um governador local resolvia castigar novamente os cristãos
de sua área, sempre com o aval de Roma. Esse padrão se prolongou por 250 anos.
Tertuliano, escritor cristão do século li,
disse: "O sangue dos mártires é a semente da igreja". Para surpresa
geral, sempre que surgia perseguição, o número de cristãos a ser perseguido
aumentava. Em sua primeira carta, Pedro encorajou os cristãos a suportar o
sofrimento, confiantes na vitória derradeira e no governo divino que seria estabelecido
em Cristo (lPe 5.8-11). O crescimento da igreja sob esse tipo de pressão
provou, em parte, a veracidade dessas palavras.
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