Por Rafael Jácome
Fonte: Extraído do Livro Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo
Fonte: Extraído do Livro Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo
A. Kenneth Curtis. J. Stephen Lang e Randy Petersen
Embora
Tertuliano tivesse outorgado à igreja a idéia de que Deus é uma única
substância e três pessoas, de maneira alguma isso serviu para que o mundo
tivesse compreensão adequada da Trindade. O fato é que essa doutrina confundia
até os maiores teólogos.
Logo
no início do século IV, Ario, pastor de Alexandria, no Egito, afirmava ser
cristão, porém, também aceitava a teologia grega, que ensinava que Deus é um só
e não pode ser conhecido. De acordo com esse pensamento, Deus é tão
radicalmente singular que não pode partilhar sua substância com qualquer outra
coisa: somente Deus pode ser Deus. Na obra intitulada Thalia, Ario
proclamou que Jesus era divino, mas não era Deus. De acordo com Ario, somente
Deus, o Pai, poderia ser imortal, de modo que o Filho era, necessariamente, um
ser criado. Ele era como o Pai, mas não era verdadeiramente Deus.
Muitos
ex-pagãos se sentiam confortáveis com a opinião de Ario, pois, assim, podiam
preservar a idéia familiar do Deus que não podia ser conhecido e podiam ver
Jesus como um tipo de super-herói divino, não muito diferente dos heróis
humanos-divinos da mitologia grega.
Por ser um eloqüente pregador, Ario sabia extrair o máximo de
sua capacidade de persuação e até mesmo chegou a colocar algumas de suas idéias
em canções populares, que o povo costumava cantar.
"Por
que alguém faria tanto estardalhaço com relação às idéias de Ario?",
muitas pessoas ponderavam. Porém, Alexandre, bispo de Ario, entendia que para
que Jesus pudesse salvar a humanidade pecaminosa, ele precisava ser
verdadeiramente Deus. Alexandre conseguiu que Ario fosse condenado por um
sínodo, mas esse pastor, muito popular, tinha muitos adeptos. Logo surgiram
vários distúrbios em Alexandria devido a essa melindrosa disputa teológica, e
outros clérigos começaram a se posicionar em favor de Ario.
Em função desses distúrbios, o imperador
Constantino não podia se dar ao luxo de ver
o episódio simplesmente como uma
"questão religiosa". Essa "questão religiosa"
ameaçava a segurança de seu império. Assim, para lidar com o problema,
Constantino convocou um concilio que abrangia todo o império, a ser realizado
na cidade de Nicéia, na Ásia Menor.
Vestido com roupas
cheias de pedras incrustadas e multicoloridas, Constantino abriu o concilio.
Ele disse aos mais de trezentos bispos que compareceram
àquela reunião que deveriam resolver o impasse. A divisão da igreja, disse, era
pior do que uma guerra, porque esse assunto envolvia a alma eterna.
O
imperador deixou que os bispos debatessem. Convocado diante dos bispos, Ario
proclamou abertamente que o Filho de Deus era um ser criado e, por ser
diferente do Pai, passível de mudança.
A
assembléia denunciou e condenou a afirmação
de Ario, mas eles precisavam ir além disso. Era necessário elaborar um
credo que proclamasse sua própria visão.
Assim,
formularam algumas afirmações sobre Deus Pai e Deus Filho. Nessas declarações,
descreviam o Filho como "Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não
criado, consubstanciai com o Pai".
A
palavra "consubstancial" era muito importante. A palavra grega usada pelos conciliares foi homoousios. Homo quer
dizer "igual"; ousios significa "substância".
O partido de Ario queria acrescentar uma letra a mais àquela palavra: homoiousios, cujo significado passaria a ser "de substância similar".
Com exceção de dois bispos, todos os
outros assinaram a declaração de fé. Esses dois, com Ario, foram expulsos. Constantino
parecia satisfeito com o resultado de sua obra, mas isso não durou muito tempo.
Embora
Ário tivesse ficado temporariamente fora do cenário, sua teologia permaneceria
por décadas. Um diácono de Alexandria chamado Atanásio tornou-se um dos maiores
opositores do arianismo. Em 328, Atanásio tornou-se bispo de Alexandria e
continuou a lutar contra aquela facção.
No
entanto, a guerra continuou na igreja do Oriente até que outro concilio,
realizado em Constantinopla, no ano 381, reafirmou o Concilio de Nicéia. Ainda
assim, traços dos pensamentos de Ario permaneceram na igreja.
O
Concilio de Nicéia foi convocado tanto para estabelecer uma questão teológica
quanto para servir de precedente para questões da igreja e do Estado. A
sabedoria coletiva dos bispos foi consultada nos anos que se seguiram, quando
questões espinhosas surgiram na igreja. Constantino deu início à prática de
unir o império e a igreja no processo decisorio. Muitas conseqüências
perniciosas seriam colhidas nos séculos futuros dessa união.
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