Irmão Rafael Jácome
A aula era de filosofia e o professor Albert debatia sobre o mito da caverna. Como um bom alemão o seu sotaque era forte para expressar-se em italiano, mas conseguia transmitir suas idéias para nós. Expôs toda sua teoria sobre o assunto e trouxe para a realidade da vivência cristã.
Greg, um dos meus melhores amigos para debates desta natureza, esperava ansioso para discutir comigo suas interpretações, na certeza que iria polemizar. Não deu outra: pegou todo o contexto do exemplo de Platão e adaptou ao mundo cristão, mais ou menos assim:
- Rafael preste atenção! No mito narrado por Platão, os seres humanos aprisionados na caverna, permaneciam com os corpos sempre no mesmo lugar, sem que direcionassem o olhar para fora dela. Eram iluminados por uma fogueira que criava sombras todas as vezes que algo passava perto da entrada da caverna. Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, tudo o que eles viam e conheciam eram projeções dessas coisas, e não as coisas propriamente ditas, certo? – Perguntava Greg para ir aos poucos formalizando seus pensamentos, e continuava:
- Eles acreditavam que aquelas sombras eram reais, de forma que não se questionavam se haveria algo além das coisas percebidas na caverna. Mas, o que aconteceria quando um dos homens tomasse a iniciativa de investigar se existe uma realidade que transcende o usualmente percebido e abandonasse a caverna? Antes de tudo ao sair, não conseguiria ver com nitidez as coisas, já que a ausência de luz ofuscaria sua visão. Ao se acostumar com a luz do sol, esse homem veria as coisas na sua totalidade de cores e formas, descobrindo que durante toda sua vida não vira senão sombras de imagens e que somente agora está contemplando a própria realidade. Isto é o que aconteceria com ele, mas, o que ocorreria no seu retorno quando contasse sua experiência para seus colegas?
- Perguntou Greg com todo seu entusiasmo. Não deixou nem eu responder e concluiu:
- Os seus amigos estão entretidos com a contemplação das sombras, e esse homem liberto das ilusões, se propõe a comunicar o que ele descobriu na realidade exterior. Entretanto, aqueles que permaneceram na caverna, zombariam dele, não acreditariam em suas palavras, pois não estavam preparados para receber essa revelação libertadora, preferindo então as sombras das coisas. Concluo caro Rafael – dentro da lógica cristã, quem é que se liberta e sai da caverna? O crente. O que é a luz exterior do sol? A Palavra de Deus “...E a verdade vos libertará” (Jo 8.32) Qual o instrumento que liberta o crente e com o qual ele deseja libertar os outros? A vivência evangélica e é por causa dela que os outros zombam, espancam e matam o crente, porque imaginam que o mundo sensível é o mundo real e o único verdadeiro. E Jesus ressaltou: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida.” (Jo 14 – 1-12).
DEUS É FIEL! Rafael Jácome
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