quinta-feira, 7 de junho de 2012

DEUS, A CRIAÇÃO E A DÚVIDA (2)


Desde o início da relação entre Deus e o homem grandes fatos históricos foram pactuados entre o Criador e a criatura, que diante do projeto divino para a humanidade foram realizadas diversas alianças necessárias para que, mesmo quebradas, nunca fossem interrompidas. Um dos pontos de conflitos desta relação foi à criação do universo e a incessante procura da verdade dos fatos criacionista, mas, a ação gerou em si mesma a abordagem da dúvida. Os gregos, por exemplo, acreditavam na existência de uma matéria original, da qual procederiam todas as coisas.  A ciência com seus avanços tenta descobrir e refazer essa ação misteriosa e distante do conhecimento humano. Entretanto, é na bíblia que se encontra a maior referência literária mundial deste evento, constituindo-se numa ferramenta de fé e afirmação do caráter incondicional de Deus em relação às coisas sagradas instituídas na vida cotidiana do homem. A vida é introduzida, não foi apenas uma simples construção, mas um poder criativo: todas as formas de vida animal da terra e da água e do universo estão envolvidas nas ações do Senhor. Assim sendo, as coisas que não foram reveladas pertencem a Deus, e só serão apresentadas no momento apropriado: “As coisas encobertas são para o Senhor, nosso Deus, porém as reveladas são para nós e para nossos filhos, para sempre, para cumprirmos todas as palavras desta lei.” (Dt 29.29).
Nesta perspectiva as obras humanas caracterizaram-se injustas por quererem construir pontes para superar um abismo intransponível a partir da situação humana, gerando dúvidas em relação à tradição herdada. Mas, o homem quis continuamente conhecer a verdade e cercado de dúvidas não foi motivo de separação de Deus? Segundo o filósofo e teólogo Paul Tillich, não houve separação. Isto por que:

“A dúvida significa na verdade uma confissão na busca pela verdade. Como para o fiel toda verdade tem de ser divina (se algo é verdade, não pode provir do “pai da mentira”), toda verdade é, de fato, expressão da Verdade. Não pode haver duas verdades, uma natural e outra sobrenatural. A dúvida, então, é expressão da Verdade através do reconhecimento de sua ausência. (...) A dúvida é, pois, inerente à fé, e não pode ser vencida por qualquer forma de repressão cognitiva. Ela tem de ser vivenciada com coragem, e a coragem aponta para uma vitória sobre a dúvida que engloba a manutenção da dúvida. Se nada da dúvida permanecesse, a coragem não seria coragem. A vitória da coragem sobre a dúvida é real, mas fragmentada.” TILLICH, A dinâmica da fé-  p-16-9 e 65-6.

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