Por Rafael Jácome
Por se sentir inútil e incapaz de
reverter aquilo que lhe é superior aos seus limites, por perceber sua
fragilidade diante dos acontecimentos cotidianos, o homem nunca é satisfeito
com sua natureza. Biologicamente é carente e deve aprender tudo, trabalhando de
forma criadora para sobreviver. Num cenário repleto de fenômenos sociais,
culturais e econômicos, desde sua era pré-histórica buscou em outras dimensões
as respostas para os seus conflitos: a criação de seres superiores, fortes,
sentimentais, amantes, vingativos, próximos aos sentimentos humanos e repletos
dos mesmos anseios, fantasias e ilusões. Para representá-los foram criadas
imagens, sendo meras imitações de criaturas e feitas de materiais sem vida:
deuses de fundição, de ouro, de pedra, de madeira e de outras matérias.
Desde a antiguidade o homem criou os
seus deuses, seus imortais e as suas “fortalezas cósmicas”, celebrando suas
grandezas envolvidas pela imensidão do universo, para expressar o papel
espiritual imaginário do que ele realmente desejaria ser. Uma perfeição que não
encontrou em si mesmo, e, somente nos seus mitos é que refletiu uma imagem do
espelho da sua realidade. A concepção de que a sua natureza é, diante dos
acontecimentos, frágil e pobre, demonstrou a dramática história de produzir
deuses e deusas para ajudarem a articular sua percepção das forças poderosas,
mas invisíveis que o cercava. Os deuses mesopotâmicos, por exemplo, inspiravam
um sentimento de terror:
“A vida de além túmulo é
miserável e os vivos, voltados para o gozo imediato, mal se ocupam dos mortos
ou dos túmulos (...) o babilônio teme os deuses (...) um terror constante
curva-o diante dos demônios e gênios que podem ser malfeitores... Na
civilização egípcia cada nomo rendia culto a um deus local, geralmente
representado por um animal (falcão, chacal, crocodilo, leão, etc), protetor da
comunidade, e que provavelmente remontava à época em que os primitivos
habitantes formavam grupos de caçadores nômades (...) Na sedentarização e o
surgimento das comunidades agrárias, apareceram os cultos ligados à fertilidade
e à fecundidade – os de Osíres (o deus mais popular) e Ísis – e ao Sol – Rá,
que mais tarde se fundiu com o de Amon (daí Amon-Rá). Rá era considerado o
criador do universo.” (História das Sociedades: das comunidades primitivas às
sociedades medievais/ Rubim Santos Leão de Aquino, Denize de Azevedo Franco,
Oscar Guilherme Campos Lopes – Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1980, pag102).
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