quinta-feira, 7 de junho de 2012

DO CAOS O HOMEM CRIOU OS SEUS DEUSES (1)


Por Rafael Jácome

            Por se sentir inútil e incapaz de reverter aquilo que lhe é superior aos seus limites, por perceber sua fragilidade diante dos acontecimentos cotidianos, o homem nunca é satisfeito com sua natureza. Biologicamente é carente e deve aprender tudo, trabalhando de forma criadora para sobreviver. Num cenário repleto de fenômenos sociais, culturais e econômicos, desde sua era pré-histórica buscou em outras dimensões as respostas para os seus conflitos: a criação de seres superiores, fortes, sentimentais, amantes, vingativos, próximos aos sentimentos humanos e repletos dos mesmos anseios, fantasias e ilusões. Para representá-los foram criadas imagens, sendo meras imitações de criaturas e feitas de materiais sem vida: deuses de fundição, de ouro, de pedra, de madeira e de outras matérias.
            Desde a antiguidade o homem criou os seus deuses, seus imortais e as suas “fortalezas cósmicas”, celebrando suas grandezas envolvidas pela imensidão do universo, para expressar o papel espiritual imaginário do que ele realmente desejaria ser. Uma perfeição que não encontrou em si mesmo, e, somente nos seus mitos é que refletiu uma imagem do espelho da sua realidade. A concepção de que a sua natureza é, diante dos acontecimentos, frágil e pobre, demonstrou a dramática história de produzir deuses e deusas para ajudarem a articular sua percepção das forças poderosas, mas invisíveis que o cercava. Os deuses mesopotâmicos, por exemplo, inspiravam um sentimento de terror: 

“A vida de além túmulo é miserável e os vivos, voltados para o gozo imediato, mal se ocupam dos mortos ou dos túmulos (...) o babilônio teme os deuses (...) um terror constante curva-o diante dos demônios e gênios que podem ser malfeitores... Na civilização egípcia cada nomo rendia culto a um deus local, geralmente representado por um animal (falcão, chacal, crocodilo, leão, etc), protetor da comunidade, e que provavelmente remontava à época em que os primitivos habitantes formavam grupos de caçadores nômades (...) Na sedentarização e o surgimento das comunidades agrárias, apareceram os cultos ligados à fertilidade e à fecundidade – os de Osíres (o deus mais popular) e Ísis – e ao Sol – Rá, que mais tarde se fundiu com o de Amon (daí Amon-Rá). Rá era considerado o criador do universo.” (História das Sociedades: das comunidades primitivas às sociedades medievais/ Rubim Santos Leão de Aquino, Denize de Azevedo Franco, Oscar Guilherme Campos Lopes – Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1980, pag102).

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