Por Rafael Jácome
Durante
este passado remoto o homem buscou sempre encontrar a sua alma imortal, na
mesma relação com os deuses, e nas diversas criações da sua história e do mundo,
era como se eles tivessem ensinado a construir suas cidades e templos, simples
cópias dos seus lares no reino divino: No Oriente Próximo, por exemplo, o
templo era muita vez visto como uma réplica do cosmo, como se ver em Moisés no
Monte Sinai, que recebe instruções detalhadas de Javé: “E me farão um
santuário, e habitarei no meio deles. Conforme tudo que eu te mostrar para
modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus vasos, assim mesmo o
fareis.” (Ex 25.8-9). O livro de Gênesis conta que a construção da Torre de
Babel bíblica constituiu um dos maiores desafio do homem a Deus, objetivando evitar
as consequências de um novo dilúvio e estabelecendo nela o centro do império do
mundo. Na perspectiva da análise humana a sua edificação evitaria a morte
causada pela ira de Deus e uma das suas simbologias era o marco inicial da
cultura, onde a humanidade pretendia dominar o mundo. Babel em hebreu significa
“Porta de Deus”, foi construída na planície de Sinear (Gn 11.2-9), sede do
governo de Ninrode (Gn 10.8-10), mencionada como a primeira cidade depois do
dilúvio. Temos neste evento um exemplo perfeito para a caracterização das obras
humanas serem consideradas injustas por quererem construir pontes para superar
um abismo intransponível a partir da sua própria situação. Babel passou a ser
sinônimo de algazarra, balbúrdia, confusão, porque ali Deus
confundiu a linguagem de toda a terra (Gn 11.9) e dispersou o povo por toda a sua
superfície.
Na verdade o homem criou um
parentesco de dúvidas com os deuses. Há cerca de cinco mil anos atrás, os
sumerianos já construíam em diversos lugares da mesopotâmia seus altos templos,
denominados de “Montanhas de Deus”, ou “Torres da Presunção”. Simbolizavam a criatividade da técnica humana
e a sede pelo poder. Os sumerianos apesar de terem sido por diversas vezes
atacados e dominados, foram eles que trouxeram a terra hábitos culturais
refinados. Possuíam animais domésticos, queimavam tijolos, fabricavam artigos
de cerâmica, conheciam o plantio de cereais, utilizavam diversos metais para
seus artigos de uso diário e adornos. Foram mestres na arte de escrever, de
fazer contas, astronomia e religião. No livro “Tudo começou em Babel” do
escritor alemão Wendt, ele afirma que o grande império babilônico teve por base
a herança cultural dos sumerianos:
“Quando as colunas em
que repousava o sistema social babilônico ameaçavam ruir - a construção
suntuosa de Nabucodonosor, enxertada na civilização milenária dos
predecessores, teve como resultado a criação do sectarismo, da anarquia e
ilusão das massas. Principalmente ilusão coletiva. A superstição, a velha
doença dos babilônios, surgido do emprego errôneo da sabedoria e das máximas
religiosas sumerianas – esse mal se alastrava como nunca. Mágicos caldeus,
precursores dos charlatães de hoje, faziam ao povo assustado os mais esdrúxulos
horóscopos. Os enfermos já não procuravam os médicos, mas os que conjuravam os
demônios. O povo tinha medo da saliva de anciãs inocentes, temia gatos pretos e
maus olhados, cultuava a crença nos espíritos desencarnados e a queima das
bruxas. Já o Livro de Daniel fala desses astrólogos, profetizadores, mágicos,
decifradores de sonhos e caldeus. Já então existia o hábito de enganar com
mentiras e invencionices aos que procuravam conselhos, inclusive reis. A maior
parte do Velho Testamento compõe-se de tradições culturais e religiosas, de
heranças étnicas e históricas da Mesopotâmia”. (Herbet, 1962)
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