Por Rafael Jácome
Durante
os diversos períodos da história da humanidade as religiões serviram como um
instrumento de manutenção de poder, garantindo privilégios para a elite
dominante. Foram parceiras nos processos econômicos, sociais, culturais,
políticas e ideologias de opressão. Os deuses davam a garantia da manutenção da
ordem social e através dos seus exemplos eram retiradas as premissas para a
organização das comunidades. No mundo pagão da antiguidade o caos era sinal de
poder, contanto que fossem obedecidas as suas regras e autoridades. Os deuses
egípcios, gregos e romanos, expressavam todas as crenças e descrenças da
humanidade, e, difundiram em grandes escalas a sua dicotomia. Na Roma antiga,
onde o Estado romano era o empresário deles, nunca houve uma preocupação em
resolver problemas entre os seus adeptos, aliás, além dos de casa, a cada
conquista de outras regiões o número de deuses aumentava. No período
republicano os romanos conviveram com uma multidão de deuses, onde se afirmava
que existiam cidades com maior número de deuses do que a própria população. Os
sacerdotes eram responsáveis pelo direito de regular as relações entre os
homens, segundo a vontade dos deuses, que a comunicavam apenas a eles durante
as cerimônias religiosas. Assim sendo, não sabiam com precisão quais eram seus
direitos e deveres. Eram os sacerdotes que os comunicavam, caso por caso,
constituindo-se desta forma como os primeiros advogados de Roma. Esta estrutura
foi sucumbida muito tempo depois, após o surgimento do monoteísmo através do
estoicismo e depois com o judaísmo e por fim, com o triunfo do cristianismo.
Hoje cada religião
tem o seu culto e as suas crenças, que através dos seus dogmas fazem o homem
acreditar nos seus absurdos, em coisas possíveis e contraditórias, conforme
indica Voltaire: “injuriosas à divindade,... Não seria aquela que não sustentasse
suas crenças com carrascos, e inundasse a terra com sangue por causa de
sofismas ininteligíveis?” Para muitos,
as religiões durante séculos tem massacrado a sociedade com suas doutrinas, aonde
as mais tradicionais chegam a afirmar que o homem deve-se moldar à idéia divina
da humanidade para se tornar plenamente humano. Elas usaram os seus deuses para
sufocar a criatividade humana, se fazem deles resposta geral para os problemas
e contingências possíveis no seu senso de realização. Foi estabelecido o
critério do ritual, onde as pessoas assistem os cultos sem se preocupar com as
idéias, não aceitam mudanças e os rituais estabelecidos oferecem uma ligação
com a tradição, a segurança e a garantia de que nada vai mudar. Os deuses são
apresentados e impostos como a base do ser, amigos, apavorantes, o bem e o mal,
essência da vida, humanitários, senhores da história, sobrevivência,...
“Essas fés primitivas exprimiam a
perplexidade e o mistério que sempre parecem ter sido um componente essencial
da experiência humana deste mundo belo mais aterrorizante. Como a arte, a
religião foi uma tentativa de encontrar sentido e valor na vida, apesar do
sofrimento que a carne herda. Como qualquer outra atividade humana, a religião
pode sofrer abusos, mas isso parece ser o que sempre fizemos. Não foi imposta a
uma natureza primordialmente secular por reis e sacerdotes manipuladores, mas
era natural da humanidade. Na verdade, nosso secularismo atual é uma
experiência inteiramente nova, sem precedentes na história humana. Ainda
precisamos ver como vai funcionar. Também é verdade que nosso humanismo liberal
ocidental não é uma coisa que nos vem naturalmente como a apreciação de arte ou
poesia, tem de ser cultivado. O próprio humanismo é uma religião sem Deus – nem
todas as religiões, claro, são teistas. Nosso ideal ético secular tem suas
próprias disciplinas da mente e do coração, e oferece as pessoas os meios para
encontrar o sentido último da vida humana, outrora proporcionados pelas
religiões mais convencionais.”(Armstrong, Karen: Uma História de Deus,
Companhia das Letras, 1994)
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